Reflexão sobre o mês missionário
“Não se abre uma rosa apertando-se o botão”, escreveu alguém. É um pensamento muito próprio para uma reflexão sobre a vocação missionária do cristão para o mês que se avizinha: o mês de outubro, dedicado às missões. Jesus disse ao enviar os apóstolos para anunciar o ano da graça: “Eis que vos enviou como carneiros em meio a lobos vorazes” (Cf. Mt. 10,16). E, quando, mal recebidos em uma cidade, João e Tiago pretendiam mandar o fogo dos céus sobre aquele povo, mas Jesus os repreendeu “Não sabeis de que espírito sois? (Cf. Lc. 9,55).
A primeira atitude do missionário deve ser a mansidão. O anúncio da Boa Nova é um anúncio de paz. O texto do profeta Isaias lido por Jesus na sinagoga de Nazaré (Cf. Lc. 4,16-22) e a si próprio aplicado, diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, eis porque me ungiu e mandou-me evangelizar os pobres, sarar os de coração contrito, anunciar o ano da graça”(Cf. Is. 61, 1-4)
E, logo a seguir, no Sermão da Montanha, revirando todos os princípios e conceitos que o pecado instilara nos corações dos homens, da sociedade e da cultura, declara bem aventurados os mansos, os misericordiosos e os que promovem a paz, (Cf. Mt. 5).
A violência e a agressividade afastam os corações. Não é a toa que Santa Terezinha foi declarada padroeira das missões, ela que jamais transpôs as grades de seu convento e, partindo deste mundo aos vinte quatro anos, podia prometer que dos céus enviaria uma chuva de rosas sobre a terra. São Francisco de Sales, igualmente ensinava que se apanham mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre.
Quanta paciência e compreensão mostraram os santos missionários de todos os tempos na inculturação da fé em corações duros e arraigados numa cultura pagã totalmente diversa dos caminhos cristãos. Davam tempo ao tempo, como o semeador aguarda com paciência o tempo da colheita.
O plano salvífico de Deus não é imposto. Como na criação Deus respeitou a vontade do homem que optou pelo pecado, assim também o respeita na opção que ele faz diante da oferta da salvação. “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti”, diz Santo Agostinho.
O cristão que tem, pelo batismo, a vocação missionária, a missão de anunciar a Boa Nova, tem de ter, ele próprio, um coração semelhante ao de Cristo, manso e humilde, como pedimos na jaculatória, “fazei nosso coração semelhante ao vosso”.
O missionário, ao levar a Boa Nova a um mundo angustiado e sem esperança ou cuja esperança se esgota com o último suspiro, não pode se apresentar triste e descorçoado, impaciente ou ansioso, mas deve manifestar uma vida irradiante de fervor e da alegria de Cristo.
Nesse espírito o missionário, sem tergiversar sobre sua fé e sobre a mensagem, abra sua voz para “propor aos homens a verdade evangélica e a salvação em Cristo,com absoluta clareza e com todo o respeito pelas opções livres que a consciência dos ouvintes fará” (E.N 80). Lembre-se “não se abre uma rosa apertando-se o botão”.
DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.
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